Com verticalização, cresce demanda por síndico profissional

Mais de um terço da população brasileira vive em condomínios residenciais, segundo dados do INCC (Instituto Nacional de Condomínios e Apoio aos Condôminos). Esses cerca de 80 milhões de pessoas moram em mais de 520 mil empreendimentos que movimentam aproximadamente R$ 190 bilhões por ano em taxas de administração, serviços de manutenção e limpeza.

Nos últimos oito anos, houve um aumento expressivo no número de condomínios. Em 2016, eram cerca de 420 mil

Como resultado, a busca por síndicos profissionais aumenta, já que cada condomínio precisa ter uma liderança representativa, alguém que administrará o dinheiro, os problemas e os conflitos, e nem sempre haverá um morador disposto ou qualificado para isso.

De acordo com a Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo), a projeção é de um crescimento de 25% a 30% nos postos de trabalho para síndicos profissionais nos próximos cinco anos.

Além disso, esse aumento no número de condomínios implica mais empregos em outras áreas. Neste momento, esses empreendimentos já empregam diretamente 2 milhões depessoas, em vagas formais e informais, conforme o INCC.

Margareth Ferreira Bariani, síndica profissional na zona norte da capital paulista, tem quase uma década de experiência na função e comanda hoje cinco empreendimentos. No total, ela gerencia mais de 300 unidades residenciais, com mais de 700 moradores.

A síndica iniciou sua trajetória como conselheira, se tornou subsíndica e síndica moradora, antes de decidir se profissionalizar. A profissionalização pode ser alcançada através de cursos de qualificação, como os promovidos pela Aabic.

No caso de Bariani, a transição profissional veio da necessidade de administrar seu condomínio de maneira mais eficaz, buscando compreender as complexidades do cargo e as legislações envolvidas.

“Quando me tornei síndica profissional, eu tive que abrir uma empresa, fazer cursos e não parei mais de estudar. Continuo frequentando congressos e palestras. Ser síndico é mais complexo do que a gente imagina”, diz.

Na avaliação de Bariani, o mercado para síndicos profissionais tem se ampliado devido ao comprometimento de tempo necessário para manter-se atualizada, o aumento das exigências legais relacionadas à gestão do condomínio e as crescentes demandas dos moradores. 

“Os síndicos moradores, também chamados de síndicos orgânicos, geralmente têm outro emprego ou outros afazeres. Já o síndico externo, profissional, precisa estar sempre acessível e resolver as questões do condomínio para conseguir permanecer no cargo”, afirma.

José Roberto Graiche Júnior, presidente da Aabic, diz que ainda existe muito espaço para a ampliação do mercado para síndicos profissionais.

“Em São Paulo, notamos que cerca de 13% a 14% dos condomínios associados à nossa entidade têm síndicos profissionais, enquanto os outros 86% são conduzidos por síndicos moradores”,diz.

Ele diz ter percebido um aumento no número de pessoas que se apresentaram para ser síndicas durante a pandemia, em consequência do aumento do desemprego. Contudo, ele alerta que o despreparo para a função pode resultar em má gestão, o que levaria os conselhos de moradores a intervir.

“Por volta de 89% dos condomínios não conseguem manter o síndico profissional por mais de dois anos”, afirma.

A sugestão dele é que os interessados no trabalho comecem atuando como síndicos ou conselheiros nos condomínios onde moram. “Essa experiência prática ajuda a entender como tudo funciona antes de se comprometer com a carreira.”

Para Paulo Melo, presidente do INCC, um dos maiores desafios da profissão de síndico é lidar com as desconfianças dos moradores quanto à destinação adequada do dinheiro arrecadado com as taxas condominiais.

“Os síndicos estão constantemente sendo julgados. A questão é: como fortalecer a relação de confiança entre síndicos e moradores? A resposta para mim é a transparência. Abrir as contas para os próprios moradores poderem verificar a destinação do dinheiro”, afirma.

Fonte: Folha de São Paulo