Especialistas indicam como tornar o ambiente de trabalho mais prazeroso

Em meio ao crescente registro de casos de burnout e esgotamento mental, a ideia de que o trabalho é a principal fonte de felicidade parece contraditória. No entanto, é inegável que as pessoas passam a maior parte da vida no ambiente de trabalho – para ser mais exato, um total de 3.500 dias são gastos no ofício, segundo a Associação de Técnicos de Contabilidade do Reino Unido.

Mesmo que você esteja em uma função que não ame, é possível aumentar os níveis de alegria. O Estadão ouviu seis especialistas para traçar dicas simples que podem mudar significativamente a maneira como se encara o trabalho. Não existe fórmula mágica. Os problemas não vão sumir, os emails e os avisos de reuniões também vão continuar chegando na sua caixa de notificação.

Mas reconhecer quando a vida profissional está enfadonha é um primeiro passo, principalmente para lideranças que enfrentam tarefas burocráticas, pressão de todos os lados e tomadas de decisão – que nem sempre são fáceis. Aqui, as principais recomendações:

1. Priorize hobbies fora do trabalho
Se você não tira a cabeça do trabalho, mesmo fora do expediente, está na hora de recalcular a rota. Um estudo da Associação Americana de Psicologia concluiu que deixar de pensar no trabalho à noite, especialmente no caso dos gestores, diminui o risco de esgotamento durante o dia. Segundo a pesquisa, chefes que refletiam mais sobre o ofício na noite anterior ficavam menos propensos a executar algumas qualidades de liderança, como o entusiasmo. 

Por isso, planejar ocasiões para se desligar das obrigações corporativas é fundamental para ter tempo de qualidade, destaca Luís Gonzáles, CEO da Vidalink, empresa de planos de bem-estar. “Para mim, cozinhar, ir a um show, mergulhar são momentos que me desconectam totalmente. Também é importante ter recorrência em atividades e hábitos que fazem bem, como se exercitar com regularidade, dormir e se alimentar bem”, exemplifica

No caso de CEOs, os hobbies não precisam ser demorados ou com tarefas intermináveis. O indispensável é ter espaço para a alegria fora do trabalho, o que aumenta consideravelmente as chances de a pessoa ser mais sociável na vida profissional. “(Os líderes) têm de compartilhar o que vivenciam e os seus sentimentos. Algumas lideranças buscam terapeutas, e outras buscam amigos que também estão no mundo corporativo e dividem desafios parecidos”, diz Gonzáles. 

2. Ninguém é feliz sozinho: encontre a sua comunidade no trabalho
É crucial compreender a felicidade como sensação de bem-estar, levando em consideração que não existe perfeição no cotidiano e os contratempos fazem parte de qualquer ambiente, independentemente da profissão, ressalta Simone Nascimento, especialista em saúde mental nas organizações.

Nesse contexto, além de ser crucial para fortalecer o networking e liderar pessoas de forma eficiente, desenvolver amizades no trabalho se torna um catalisador para lidar de forma mais leve com os altos e baixos diários.

“Cultivar habilidades sociais evita que as lideranças se isolem e abre portas para relações interpessoais significativas e conexões positivas, o que é fundamental para o bem-estar, sendo determinante para uma pessoa gostar ou não da empresa”, sugere a especialista. Simone reforça que, no caso das lideranças, é preciso haver um esforço para conhecer a equipe de forma mais aprofundada. A estratégia envolve conquista de confiança e construção de laços.

A aproximação não precisa ser forçada ou com pressões excessivas. Comece com diálogos coletivos, assuntos em comum, por exemplo, time de futebol ou alguma especificidade do bairro em que mora.

Outro detalhe importante é a quebra do paradigma de conversar apenas com colegas de funções similares. “Existem pessoas interessantes em todos os níveis hierárquicos, e é possível encontrar afinidades que sustentarão relacionamentos para além dos cargos exercidos”, aponta a especialista. Quem também concorda com o efeito de amizades verdadeiras no trabalho é a psiquiatra Camila Magalhães. “Às vezes, as pessoas que a gente gosta no trabalho podem não se parecer conosco, ou com a formação e o gosto que temos. Mas são pessoas que vão trazer um significado.” 

3. Autoconhecimento não é “blá blá blá”
Para encontrar felicidade ao longo do dia e no ambiente de trabalho, também é preciso que o líder conheça a si mesmo. Como fazer isso?

Vamos imaginar uma situação hipotética: a liderança convive com pessoas que não costumam reagir com tranquilidade quando algo dá errado. Na visão da Chief Happiness Officer (diretora de felicidade) e professora de Liderança Positiva Alessandra Becker, um profissional que investe em autoconhecimento não seria contagiado por essas emoções instáveis. Isso porque estaria preparado para lidar com assertividade diante dos desafios.

“Para líderes, autoconhecimento significa reconhecer seus pontos fortes e áreas de melhoria, entender como suas ações afetam a equipe e aprender como gerenciar suas próprias emoções em situações de estresse”, completa Daniela Bertoldo, especialista em liderança. Durante a jornada de autoconhecimento, Bertoldo sugere que vale separar um tempo para a reflexão pessoal. O intervalo de provocação pode englobar as seguintes perguntas: quais são os seus valores? O que o motiva? E qual é sua reação sob pressão?

Alcançar esse patamar não acontece da noite para o dia. O indicado, conforme Alessandra, é mapear as características que o destacam como profissional e pontos a serem trabalhados e desenvolvidos em processos de mentoria, coaching ou psicoterapia, por exemplo.

4. Procure o seu propósito e mostre que as pessoas fazem algo que importa 
“Líderes que querem formar times mais felizes precisam se lembrar de duas necessidades humanas básicas: o senso de utilidade e de conexão”, afirma Paula Roosch, especialista em inteligência emocional e empatia. Para a especialista, líderes e liderados necessitam de reconhecimento e valorização para ter a certeza de que o trabalho feito importa.

As emoções também devem ser monitoradas. O profissional deve prestar atenção ao próprio comportamento e ao que acontece no entorno. “Atente-se aos sinais de desmotivação e aos feedbacks do time e aja rápido”, diz Paula.

Se a liderança não sabe como quebrar o gelo, existem alguns caminhos para melhorar o clima no trabalho. Antes de reuniões, por exemplo, participe de “papos de corredor” para amenizar a tensão. Dê espaço para o erro, sem buscar culpados pelas falhas, mas priorize a busca por soluções. Isso inclui mostrar as falhas que a liderança comete e as inseguranças. Além disso, muitos líderes acabam focando em feedbacks negativos e esquecendo de celebrar os avanços e esforços. 

De forma geral, “isso faz toda a diferença da felicidade no trabalho”, reforça Paula

Fonte: O Estado de São Paulo