Vizinhos resgatam hábitos para manter a boa convivência

As mudanças de hábitos e condomínios, edifícios e ruas, provocadas principalmente pela pandemia, deixaram uma marca: os conflitos entre vizinhos cresceram. O resgate de hábitos sociais para estimular a boa convivência, contudo, está em alta e constrói relações mais próximas e até amizades entre eles.

A convivência nos condomínios sempre foi permeada por conflitos, mas, após a pandemia, há um crescimento na ocorrência de discussões entre vizinhos, segundo o presidente do Sindicato Patronal de Condomínios e empresas de Administração de Condomínios do Espírito Santo (SIPCES), Gedaias Freire.

 O especialista aponta hábitos entre vizinhos que estão sendo cada vez mais adotados para fortalecer o bem-estar.

“Percebo que há maior paciência diante de fontes de conflitos e, além disso, uma ampliação da comunicação proativa nas áreas comuns, nas redes sociais dos condomínios e assembleias”.

Um condomínio da Serra, por exemplo, realiza ações de interação social e uma feira semanal, com food truck, cervejarias e atrações para a diversão de crianças como forma de integrar os vizinhos.

Práticas cotidianas para a boa convivência, como cumprimentar a todos e ser solidário com os idosos, além da realização de aniversário de alguns vizinhos, por exemplo, estão entre os hábitos destacados pelo síndico profissional Leonardo Nascimento.

“As pessoas têm percebido a cada dia que a felicidade não tem preço. Viver diante de muitas regras pode criar um ambiente hostil, e que um morador vira juiz do outro com a vivência cotidiana”.

No ano passado, um projeto do condomínio Varandas de Camburi, e Jardim da Penha, Vitória, começou a aproximar vizinhos. Comemorações de festas típicas e datas especiais, por exemplo, fora algumas das ações.

A consultora imobiliária, Wanderleia Bastos, 51, junto às vizinhas Elisa Cunha, 43, Vanja Simmer, 48, e Samila Zaprogno, 31, aponta os benefícios dessa união.

“É importante criar relações com os vizinhos porque, durante anos morando no mesmo ambiente, muitas pessoas não se conheciam. Entender algumas dificuldades e limitações em que vizinho possa vir a ter ajuda do parceiro de porta e ter maior paciência são importantes”, conta Wanderleia.

União melhora até rede de apoio
Construir boas relações com os vizinhos com pequenas gentilezas e conversas harmoniosas pode influenciar a qualidade de vida de todos os envolvidos, aponta especialistas. É que, em momentos de necessidade, a união entre os vizinhos fortalece, até mesmo, a rede de apoio.

Muitas vezes, por conta da proximidade, há maior contato com os vizinhos do que com familiares, destaca o psicólogo Vinicius Grassi. O especialista aponta que, desde que a boa relação com os vizinhos seja de mão dupla, é possível colher benefícios.

“Manter uma boa relação com os vizinhos pode sim proporcionar benefícios para o bem-estar e a qualidade de vida. Alguns fatores pode estar associados ao sucesso de um relacionamento de longo prazo, como o respeito, a individualidade, o espaço para o diálogo franco e a comunicação assertiva”.

Às sextas-feiras, a psicóloga Cintia Piccinini, 45, e outras amigas do condomínio, como a gestora financeira Lindonéia Alves, 58, a autônoma Renata Aguiar, 43, a dona de casa Luciana Toa, 40, e a advogada Verônica do Rosário, 42, se reúnem para participar de um grupo de oração.

Elas conta que a convivência estreita os vínculos entre os vizinhos. Nas reuniões, todos têm a oportunidade de compartilhar vivências, desafios e felicidades e um ambiente livre de julgamentos.

Para Cintia, as vizinhas se torna verdadeiras amigas para todas as horas. Com o grupo, todas se fortalecem para enfrentar os desafios da vida, conta a psicóloga. Até vizinhos que já se mudaram do edifício continuam frequentando o grupo.

“Moro há pouco mais de oito anos aqui no edifício Jardim Hebrom e foi depois que as reuniões começaram que fui conhecer minhas vziinhas e desfrutar dessas amizades. Compartilhamos pedidos de oração e, com isso, fortalecemos nossa rede de apoio. Podemos contar umas com as outras. Até vizinhas que já se mudaram continuam vindo”.

O presidente do Sindicato Patronal de Condomínios e Empresas Administradoras de Condomínios do Espírito Santo (SIPCES), Gedaias Freire, explica o papel do síndico na intervenção ao problema e aponta como a gestão humanizada de condomínio é importante para criar bem-estar entre os vizinhos.

“O síndico é um agente pacificados, deve primar pelo diálogo com os condôminos tentando resolver os conflitos ou apaziguar os ânimos. Precisamos fazer gestão das pessoas para que todos tenha respeito pelo próximo, adote linguagem adequada e tom calmo e, acima de tudo, possa se colocar no lugar do outro”.

Obras sem aviso e barulho entre os motivos de brigas
Não faltam conflitos de convivência nos condomínios, mas, alguns deles, se propagam em diferentes espaços. Na Grande Vitória, as obras sem aviso e com fortes ruídos são o principal motivo das brigas entre vizinhos nos condomínios, aponta especialista.

A informação é do Sindicato Patronal de Condomínios e Empresas de Administração de Condomínios do Espírito Santo (SIPCES). Entre as medidas possíveis para os condomínios evitarem esse tipo de descumprimento, está a divulgação, de forma educativa, de todas as regras do espaço, diz o presidente do SIPCES, Gedaias Freire.

“Os condomínios podem divulgar as regras internas do condomínios para melhorar o cumprimento destas normas. É preciso estabelecer canais de comunicação claros e abertos, incluindo boletins informativos, criação de grupos de mensagens, com regras claras, para evitar poluição na comunicação e perda do objetivo”.

Outras brigas comuns acontece por infiltrações nas unidades inferiores, festas e conversas e tons elevados, uso irregular das vagas de garagem, circulação com animais soltos na áreas comuns e a falta de pagamento do rateio das despesas do condomínio, de acordo com o SIPCES.

Publicação: jornal A Tribuna