Líderes devem ser treinados para lidar com casos da doença

Treinamentos para que as lideranças saibam como agir em caso de doença entre as equipes, apoio externo de especialistas em saúde e campanhas de comunicação sobre a ajuda extra que a organização pode prover. Essas são as principais ações que as empresas devem adotar para reforçar o suporte a funcionários diagnosticados com câncer, segundo especialistas.

Paulo Sardinha, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH Brasil), afirma que companhias que ainda não têm nenhuma agenda de auxílio devem recorrer a consultores externos.“Aárea de saúde requer conhecimentos específicos, com serviços prestados por instituições especializadas”, explica.

Do ponto de vista das chefias, continua Sardinha, é preciso flexibilidade para resolver questões simples, como o horário de trabalho do funcionário enfermo. “A empresa deve admitir quedas de produtividade e assegurar que a liderança esteja preparada para atuar nessa situação.”

Um movimento corporativo global em torno do tema ganhou força este ano, no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, quando foi lançada a iniciativa “The working with cancer pledge” (“O compromisso de trabalhar com o câncer”, do inglês), em que mais de 30 grandes empregadores — como UnilevereToyota — assumem o compromisso de “abolir o medo que existe para quem sofre de câncer no local de trabalho”.

Os signatários se comprometem a divulgar melhor os benefícios que oferecem para empregados com a doença e consideram criar novas diretrizes, como aconselhamento gratuito com oncologistas e formatos flexíveis de licenças.

No Brasil, segundo pesquisa realizada antes da pandemia pela ABRH e o Go All, grupo de organizações não governamentais e empresas do setor farmacêutico, 58% das companhias no país não têm práticas de prevenção, acompanhamento e de tratamento de câncer dos funcionários. O estudo ouviu 261 profissionais da área de recursos humanos.

Na opinião de Rafael Ornelas, gerente médico de soluções em saúde do Hospital Albert Einstein, mais do que se preparar para a ocorrência de casos, é crítico que as corporações “falem” mais sobre saúde para os times. Que isso seja uma pauta organizacional, tendo a prevenção como palavra-chave, destaca.

Antes de disparar ações, é necessário conhecer o perfil dos funcionários, o que inclui idade, prevalência de gênero e de faixas etárias, diz. “Assim, é possível entender os tipos de câncer possíveis nesse cenário”. Com o mapeamento, explica, as chefias podem desenhar programas de gestão de saúde com previsibilidade de recursos.

“Estamos falando de uma doença que muitos não gostam nem de pronunciar o nome”, lembra.“O caminho para os gestores [que são informados sobre os diagnósticos dos liderados] é o do diálogo”. O especialista recomenda que a liderança adote um novo “olhar” para processos que permitam ao funcionário realizar o tratamento durante expedientes maleáveis, quando o empregado deseja trabalhar, e garantia de apoio adequado.

Foi o que aconteceu com Lucimara de Aguiar Augusto, gerente financeira da consultoria KPMG em São Paulo. Com 52 anos e há 35 na empresa,recebeu um diagnóstico de câncer em novembro de 2022. Uma ajuda essencial veio do médico contratado pela companhia para atender as equipes, afirma a executiva.“Ele me ajudou com a indicação de profissionais, para que eu tivesse o melhortratamento”, comenta.

Se a organização não puder manter um “médico consultor”, explica Augusto, é possível ajudar com as questões burocráticas ligadas a convênios hospitalares, que podem atrasar exames e terapias.“Uma boa conversa também é importante para o funcionário sentir que não está sozinho nessa batalha”, diz.(JS)

Fonte: Valor Econômico