São Paulo terá prédio feito de madeira

A startup de construção civil Noah lança no próximo mês o primeiro prédio residencial feito no Brasil com madeira engenheirada, técnica que torna o material tão resistente quanto uma estrutura de concreto e aço.

O empreendimento de alto padrão Arvoredo, de quatro andares e seis apartamentos, com tamanho médio de 400 metros quadrados, vai ficar na Vila Madalena, bairro da Zona Oeste de São Paulo.

Como conta Nico Theodorakis, presidente da Noah, é possível fazer prédios maiores, de 25 andares, mas a empresa quer começar com um projeto baixo para acostumar os consumidores à edificação em madeira.

Construção feitas com madeira engenheirada são industrializadas. A maior parte do trabalho é realizado fora do canteiro, que serve para a montagem de peças pré-fabricadas. As placas, vigas e paredes usadas nesse tipo de projeto são feitas com várias camadas de madeira, coladas, o que garante a rigidez necessária. A espécie de árvore utilizada é pinus, proveniente de florestas plantadas.

Até o fim do ano o país terá uma fábrica que vai produzir madeira engenheirada em larga escala, da Urbem, braço da Amata. A unidade, em Almirante Tamandaré (PR), na região de Curitiba, está em fase final de comissionamento e aguarda licença de operação para começar a funcionar, explica a presidente do negócio, Ana Bastos.

Noah e Urbem receberam no ano passado investimento do fundo de corporate venture capital da Dexco, fabricante de painéis de madeira, revestimentos cerâmicos e louças e metais sanitários.

Apesar de compartilhar a matéria-prima com as indústrias de papel e celulose e de mobiliário, Bastos analisa que não devem faltar florestas para a produção de madeira engenheirada. “Espero que, no futuro, ela seja motor de desenvolvimento de novas florestas, porque temos potencial enorme de área e de sol”, afirma.

Segundo a executiva, cerca de 20% das florestas plantadas no país hoje são de pinus, sendo o restante de eucalipto. Dario Guarita Neto, presidente do conselho da Urbem, afirma que, em breve, essa espécie vegetal também poderá ser utilizada na produção de madeira engenheirada, o que vai ampliar a quantidade de matéria-prima disponível ao setor da construção. Árvores de florestas nativas brasileira não são utilizadas.

Há pelo menos dez anos existem empresas no país que trabalham como material, mas em escala pequena. A expectativa dos executivos da Urbem é ajudar a criar um ecossistema da madeira engenheirada, o que começa com empresas como a deles e segue com negócios que façam projetos e outros que realizem as obras.

Outra técnica de construção em madeira, já mais conhecida no país, o wood frame pode ser utilizado em conjunto com a madeira engenheirada nos projetos.  Material é usado hoje para fazer casas, principalmente do segmento econômico, e prédios de até quatro andares. Seus características, no entanto, não permitem construções muito maiores do que isso. “Esperamos ter aqui um modelo complementar, no qual a estrutura, as lajas e os pilares sejam de madeira engenheirada e a fachada e fechamentos do edifício possam ser de wood frame”, diz Gomes.

Por causa da industrialização, a obra com madeira engenheirada gera menos resíduo e barulho no canteiro e também é mais rápida – a Noah quer iniciar sua obra em abril e entrega-la até o fim do ano. Outro apelo do método construtivo é a sustentabilidade, já que a madeira é renovável e sequestra carbono em seu crescimento.

Para Theodorakis, há ainda uma dimensão de bem-estar associada ao material. “Queremos trazer uma experiência diferente ao usuário”, afirma. A Noah tem o desafio de traduzir essa sensação com o projeto ainda na planta, mas, segundo o presidente, não há desconfiança dos compradores sobre a madeira. “O público consumidor tem puxado esse tipo de empreendimento, não somos nós que estamos empurrando”, diz.

O valor geral de venda (VGV) do Arvoredo é de cerca de R$ 40 milhões. A Noah tem financiamento do banco ABC Brasil para a obra.

Fonte: Valor Econômico