Pets ganham espaços exclusivos para brincar e tomar banho nos prédios

Os tempos de condomínios que não aceitavam animais de estimação ficaram para trás em São Paulo. Hoje não só os bichos são bem-vindos, como têm ganhado espaços próprios nas áreas comuns dos novos empreendimentos. Todos com nomes em inglês, como “pet place”, “pet park” e “pet play”, seguindo a tradição do mercado imobiliário paulistano.

Esses espaços já estão presente em 29% dos prédios novos em São Paulo, segundo levantamento da plataforma imobiliária Apên, feito em dezembro passado. Entre os edifícios mais antigos, a plataforma diz não haver registro de áreas específicas para os animais de estimação.

Na incorporadora Helbor, cerca de 80% dos empreendimentos são entregues com pelo menos uma área para os animais, afirma Roberto Viegas, diretor de assuntos corporativos da empresa.

O mais tradicional é o espaço para brincadeiras, mas a incorporadora oferece também o “pet care”, área para dar banho nos bichinhos.

“Normalmente, os ambientes de cuidados com os pets estão presentes em projetos que têm um público-alvo mais jovem, seja solteiro ou casal, sem filhos”, afirma Viegas. Mas os condomínios-clube, com área maior e pensados para famílias, também recebem bem esse tipo de espaço, diz.

O arquiteto Wilson Marchi, do escritório Marchi Arquitetura de Soluções, que trabalha em projetos da Helbor, vê as áreas para animais como “um grande diferencial”.

O foco dessas ações tende a ser os cães, porque os gatos se estressam com maior facilidade e ficam mais seguros dentro do apartamento, diz o veterinário Aldo Macellaro Júnior, dono do Clube de Cãompo, hotel fazenda para cachorros em Itu (interior de São Paulo).

Ele afirma que ter áreas pensadas para os cachorros nos condomínios aumenta o bem estar dos bichos.

Esses espaços também ajudam a reduzir possíveis conflitos com os vizinhos, já que alguns moradores podem não gostar ou não se sentir à vontade com cachorros em outras áreas comuns. “Tem gente que se sente incomodada com xixi no jardim, tem criança que tem medo, então é legal ter um lugar específico para eles”, diz o veterinário.

O essencial para qualquer espaço pet é um piso adequado. Segundo Júnior, a melhor opção é a grama natural, mas, a depender da insolação e do tamanho da área, a grama sintética é mais viável.

O veterinário não indica espaços com piso liso, porque os bichos podem desenvolver problemas ortopédicos. Também é preciso estar atento à temperatura: a grama sintética pode esquentar muito se ficar sob sol forte.

Por fim, como os cachorros usam a área para suas necessidades fisiológicas, a limpeza tem que estar em dia. A grama natural permanece limpa com maior facilidade, porque o solo absorve a urina e é lavada pela chuva. Já a sintética, se for colocada sobre um piso e não diretamente na terra, tem que ser lavada, porque fica sem escoamento.

Regras claras de conduta também devem estar presentes, como a obrigação de recolher as fezes dos animais e a quantidade de bichos permitida no espaço.

As áreas de “pet place” costumam ter também estruturas para “agility”, circuito para que o cão se exercite. É o caso dos empreendimentos da Even, que incluem ainda área para lavar as patas e bebedouros para os animais.

O próximo passo são máquinas automáticas para venda de produtos para pets, assim como já acontece com os mercadinhos automatizados que se proliferaram durante a pandemia, conta Marcelo Dzik, diretor-executivo de incorporação da Even.

Os bichos ganham espaço também nas lavanderias coletivas que passaram a incluir uma máquina de lavar só para as suas peças. “Pensamos em quem gosta dos animais, mas também entendemos quem não quer ter contato”, afirma Dzik.

As áreas para pets desenvolvidas pela Evem têm consultoria da Cão Cidadão, empresa que forma adestradores.

Os estandes de venda da incorporadora também costumam incluir espaço para cachorros, para atrair os tutores. “Ser ‘pet friendly’ é uma bandeira. Temos acompanhado essa necessidade e tentamos atende-la da melhor maneira possível”, diz Dzik.

Depois que os empreendimentos são entregues, os moradores pode criar novos serviços para os animais. Júnior, do clube Cãompo, conta que no condomínio em que ele vive, em Itu, foi feito um canil para cães de rua.

“Tem uns 15 cachorros que o pessoal adotou e que ficam lá. Vejo que as pessoas estão cada vez mais conscientes em relação aos animais.”

O arquiteto Wilson Marchi avalia que serviços de concierge e agendamento de atividades são tendência em condomínios e podem ser aplicados também às necessidades dos moradores pets.

“Quando o pet precisar ir ao veterinário, pode ter uma pessoa no condomínio que cuida disso para o dono”, diz.

Fonte: Folha de São Paulo