Edifícios investem em certificação ambiental

Em tempos de políticas de ESG (governança ambiental, social e corporativa) em alta, não basta ser sustentável, é preciso parecer sustentável. Certificações que atestam o bom uso de recursos naturais em construções ganham mais importância para fundos imobiliários e para empresas que precisam escolher seu escritório.

O selo de sustentabilidade Leed, concedido pelo GBC (Green Building Council) Brasil, é o mais utilizado pelo mercado, mas também há outros, como o Aqua-HQE, adaptação de selo francês, concedido pela Fundação Vanzolini.

“A certificação é a garantia de que aquilo que está sendo alegado foi visto de maneira sistemática por pessoas qualificadas”, afirma Manuel Martins, coordenador executivo do selo Aqua.

Além do benefício para a imagem das empresas, a certificação de sustentabilidade é indício de que o prédio pode ser mais rentável para investidores, apontam especialistas.

Segundo Roberto de Souza, presidente do CTE (Centro de Tecnologia de Edificações), que presta consultoria para certificação, a redução no consumo de energia e água pode ser de 30% a 40%, o que alivia o valor do condomínio.

A economia proporcionada pode ser refletida em uma locação mais cara por metro quadrado. Um estudo realizado em 2014 por pesquisadores da FGV (Fundação Getúlio Vargas) apontou que a presença da certificação era responsável, de forma isolada, por um aumento de 4% a 8% nos valores cobrados pela locação de prédios comerciais corporativos em São Paulo.

Roberto Perroni, diretor de real estate da Brookfield no Brasil, que constrói e gerencia prédios comerciais, diz que, mais que um diferencial par aumentar o preço de locação, a certificação é critério de desempate na hora de uma empresa escolher onde montar o escritório ou centro de distribuição, o que reduz a taxa de vacância desses prédios.

Mariana Hanania, diretora de pesquisa e inteligência de mercado da consultoria Newmark, diz que prédios certificados em São Paulo têm vacância média de 10%, e a média do estoque na cidade, para o mesmo padrão, é de 14%.

Para Perroni, a presença de prédios com certificado de sustentabilidade no portfólio deve ser um critério de avaliação de quem decide investir em fundos imobiliários.

“Tem muita gente que analisa o que está rendendo mais, mas tem que olhar também o lastro que esse fundo tem para geração de renda a longo prazo”, afirma. “(A presença do selo Leed) é um dos itens que você olha, que mostra que o prédio tem eficiência energética e atrai ocupantes de primeira linha.”

Dos 15 prédio da gestora, 14 possuem certificado. O único sem o selo, no Rio de Janeiro, deve ser vendido em breve.

No universo dos escritórios de alto padrão, conhecidos como AAA, ter um certificado de sustentabilidade é pré-requisito. “Não existe mais prédio AAA que seja desenvolvido e implementado que não certifique, porque senão começa com o ativo já desvalorizado”, afirma Manoel Garneiro, diretor da Ecoquest, consultoria em qualidade do ar, e ex-diretor do GBC Brasil.

Os selos de sustentabilidade chegaram ao Brasil em 2007 e são mais presentes em prédios novos, mas é possível certificar construções antigas. O que muda e o tipo de selo. Quando o prédio já está pronto, pode tentar um selo de operação, como o Leed operação e manutenção e o ciclo de operação da Aqua, que são renováveis.

Ter um prédio certificado exige investimento em materiais com menor impacto ambiental, pois esse item também é analisado, e em tecnologia. Sensores ajudam a quantificar o gasto de eletricidade e água e a avaliar a qualidade do ar.

A automação ajuda a reduzir o uso desses recursos e adapta o prédio a novas situações, como quando a pandemia começou e boa parte dos funcionários ficaram em casa.]Souza diz que as certificações ajudam a criar uma cultura de sustentabilidade na cadeia produtiva da construção, que se vê forçada a inovar para atingir os objetivos de economia de recursos naturais.

A evolução da tecnologia permite que os selos sejam mais exigentes. Um exemplo é o certificado Zero Energy, criado pelo GBC Brasil, para construções que geram toda a energia que consomem.

Como conta Felipe Faria, diretor-executivo da entidade, já são 20 edificações certificadas e há mais 75 em processo para obter o selo.

Há selos específicos sobre o bem-estar e saúde dos ocupantes dos edifícios como Well e Fitwell, que ganharam mais atenção na pandemia.

Esses certificados analisam itens como ergonomia, incentivo a atividade física, presença de espaços para descompressão e a qualidade do ar e água. “Há quatro anos não havia demanda relevante para selo de bem-estar, mas na pandemia se começou a notar mudança importante nisso”, diz Garneiro. “Vamos ter que achar um balanço entre fazer um prédio sustentável e que garanta saúde e bem-estar para os ocupantes”.

A Brookfield certifica seus prédios também com o Well. Souza e Garneiro veem esse tipo de selo como nova frente de diferenciação competitiva.

Condomínios logísticos e prédios de salas comerciais, para empresas menores e profissionais liberais, estão bem atrás na certificação.

Fonte: Folha de São Paulo