Uma convocação às lideranças do bem

Ando bem preocupada e, confesso, desanimada com o rumo que o mundo está tomando, especialmente diante do perfil de liderança que voltou a ser exaltado e legitimado em tantas esferas. Onde estão o propósito, os valores,o respeito, a inclusão? Onde está o genuíno desejo de melhorar a vida das pessoas, de tornar o ambiente de trabalho mais humano e prazeroso? Em vez disso, assistimos à ascensão de lideranças baseadas no discurso de ódio, no preconceito, na busca insaciável por poder e dinheiro em benefício próprio. Inacreditável que estejamos revivendo esse cenário em pleno 2025.

Mas não quero contaminar as pessoas com meu desânimo. Quero usar minha voz e meu espaço para convocar aqueles que não compactuam com o que descrevi acima.

Tenho certeza que vocês estão por aqui. Que estão — talvez como eu — cansados e desanimados, encolhendo-se com receio do que vem pela frente. Sei que há muitas lideranças com propósito, que não pensam só em dinheiro e que querem diminuir a desigualdade nesse mundo. Que lideram pelo amor, e não pelo ódio. Que genuinamente trabalham de forma colaborativa e respeitosa. Que acreditam que a diversidade de perfis faz o entorno crescer. Que é nossa responsabilidade olhar para aqueles que tiveram menos oportunidades.

Gostaria de fazer um apelo a essas lideranças do bem: apareçam. Cresçam. Lutem.

Não desistam. Vamos unir forças em prol do bem-estar social. Seja nas empresas, nos conselhos, nos nossos ambientes sociais e de relacionamento. Temos que agir para expulsar aqueles que agem unicamente por ganância e poder. O mal é barulhento, mas tento acreditar que ele não seja maioria.

Essa motivação é essencial para não derretermos como sociedade. E as lideranças do bem precisam usar seu poder para influenciar. Têm de ser mais vocais, mostrar que existem, persistem e acreditam. Vamos nos unir mais às organizações sociais, vamos colocar as pessoas que fazem a diferença nos holofotes.

Mas não basta desejar, nem apenas se indignar. Precisamos de ação. E ação se dá nas pequenas escolhas do dia a dia: a quem damos voz em nossas empresas e nos grupos dos quais participamos? Que tipo de comportamento incentivamos ou permitimos? Que decisões tomamos quando estamos diante de uma injustiça? Cada gesto conta. Cada atitude constrói o ambiente em que queremos viver. E se não agimos, estamos, ainda que indiretamente, permitindo que o retrocesso avance. O silêncio, nesse contexto, não é neutralidade, mas conivência.

Há líderes que mostram o caminho. Organizações que se recusam a seguir a lógica perversa da desigualdade e do poder a qualquer custo. Empresas que colocam o ser humano no centro. Iniciativas que provam que lucro e propósito podem, sim, andar juntos. Vamos aprender com quem já está fazendo. Vamos dar suporte a quem tem coragem de desafiar a correnteza.

A liderança verdadeira não se impõe pelo medo ou pela força. Ela inspira, constrói, transforma. E é isso que precisamos resgatar. Nossa responsabilidade é imensa. Nosso papel é urgente.

No final das contas, volto à pergunta que sempre faço: o que estamos dispostos a fazer para que nosso legado seja um reflexo dos nossos valores? Se queremos impedir a ascensão de comportamentos sórdidos, preconceituosos e gananciosos, temos que agir agora.

VickyBloch é fundadora da Vicky Bloch Associados, professora do IBGC, da FIA e membro de conselhos de administração e consultivos 

Fonte: Valor Econômico