Tipos de invasões a condomínios e como se prevenir

O conceito de morar em condomínio ser muito mais seguro do que em uma residência, hoje em dia, enfrenta certa desconfiança. Criminosos estão se especializando nesse tipo de empreendimento, que em muitos casos, enfrenta dificuldades para combatê-los.

Assim, invasões a condomínios continuam acontecendo, com métodos cada vez mais aprimorados e novas práticas, como as gangues de roubo a bicicletas e a clonagem de controles remotos de garagens.

Neste mês de abril, por exemplo, um condomínio na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, sofreu um arrastão, no qual o síndico acordou com um arma apontada na cabeça e cerca de 12 pessoas, entre moradores e funcionários, foram feitas reféns. A linha de investigação é que o controle da garagem tenha sido clonado. 

No mesmo mês, um trio alugou um apartamento em Moema, também na zona sul de São Paulo, com documentos falsos e furtaram R$ 140 mil, 15 mil dólares (R$ 75 mil), 10 mil euros (R$ 55 mil), além de 20 relógios e oito canetas da grife Mont Blanc da unidade do ex-diretor do Corinthians, Jorge Kalil.

São diversos modus operandi utilizados pelos criminosos para invadir condomínios. Segundo o especialista em segurança Eytan Magal, essa prática é uma modalidade linear de crime se comparada a outros tipos de delito.

"Quando me refiro à linearidade, quero dizer que não sofrem muitas oscilações ao longo dos anos. Elas ocorrem todos os dias, ano após ano, notadamente em sua maior fração nas grandes cidades", explica ele, que é CPP (Certified Protection Professional) pela ASIS International.

Em um passado recente, houve a onda dos arrastões, agora a tendência são os furtos de bicicletas na garagem e a clonagem dos controles de portões.

Mas isso não significa que outras formas de invadir condomínios pararam de acontecer. Pior que isso: a cada nova tecnologia de segurança implementada nos empreendimentos, criminosos desenvolvem novas técnicas de vazar as portarias.

Segurança pública prejudicada após a pandemia
Em números divulgados em 2022 pelo Sindicato dos Condomínios do Estado de São Paulo, com base nos dados oferecidos pela Secretaria de Segurança Pública, foi registrado um aumento de 11,09% em invasões a condomínios no primeiro semestre do ano passado.

Foram aproximadamente 2,5 mil ocorrências, contra 2,3 mil no primeiro semestre de 2021. Isso sem contar que existem casos que, por motivos alheios, sequer são comunicados aos Órgãos Públicos. 

"Já me deparei com isso. Antes de assumir um condomínio, um apartamento havia sido invadido, e as vítimas, sem a devida instrução do síndico morador, optaram por não registrar um Boletim de Ocorrência. Para mim, esse foi o maior erro e custou uma segunda invasão no prédio em um intervalo de apenas seis meses", comenta a síndica profissional Tânia Goldkorn.

De acordo com Eytan, a desigualdade social escancarada dos grandes centros urbanos, crises econômicas e desemprego são fatores que estão no cerne deste e de outros delitos que vemos. Com a pandemia e seus efeitos sobre o fechamento de empresas, este cenário se agravou.

Tipos de organizações que invadem condomínios para furtar ou roubar apartamentos

Quadrilha especializada/profissional
Formado por um número maior de integrantes, esse grupo organizado possui recursos técnicos, financeiros e inteligência.

Podem planejar arrastões, mas também focar em um alvo específico e, quase sempre, detêm de informações privilegiadas, como hábitos das vítimas, localização de cofres e disposição dos ambientes.

"Em um caso de invasão a condomínio que tive que lidar, por exemplo, os assaltantes foram direto para o quarto do casal, exatamente onde se encontravam os bens mais valiosos, e deixaram para trás um relógio caríssimo que estava na pia de um dos banheiros", relembra Tânia.

Também escolhem regiões conhecidas pelo alto poder aquisitivo, nas quais moram empresários e estrangeiros, com o objetivo de furtar, além de dinheiro em espécie, outros objetos de valor, como notebooks, celulares, relógios e joias.

"A atratividade é, sem dúvida, o maior fator de risco para os condomínios. Quanto maior a renda per capita da população, maior a atenção dos assaltantes", alerta Eytan.

Muitas vezes estão fortemente armados, costumam render porteiros, vizinhos ou vítimas, mantendo-os reféns, e fugindo de carro. 

Indivíduo ou pequenos grupos que agem por oportunidade
Prospectam condôminos caminhando e observando aqueles que aparentam ser mais vulneráveis e não oferecem grandes riscos. Vão tentando entrar de prédio em prédio, até que conseguem acessar algum lugar.

Agem sozinhos, ou no máximo, em dupla. Porém, é possível que os criminosos que atuaram no delito, a princípio isoladamente, estejam ligados a quadrilhas especializadas. 

Reviram os imóveis também à procura de notebooks, celulares, relógios, joias, etc e usam mochilas/malas para levar os pertences das vítimas. 

Em todo caso, seja quadrilha especializada ou grupos isoladas, ambos optam por invadir apartamentos que estão vazios. Tocam a campainha das unidades para se certificarem de que não há ninguém em casa, e arrombam a porta, geralmente usando pé de cabra, chave de fenda ou qualquer outra ferramenta de ferro.

Por quais motivos os condomínios se tornam alvo de invasões
Marco Aurélio Amaral, superintendente geral da empresa RS Serviços, indica que as invasões a condomínio acontecem devido a três categorias de falhas:

- Humanas
Porteiros
Moradores


- Técnicas
Barreiras físicas (muros altos, guarita, clausura, etc)
Equipamentos (cerca, controles remotos, câmeras, alarmes perimetrais, etc)


- Organizacionais
Ausência de protocolos e treinamentos;
Ausência de projeto de segurança.

 

Eytan concorda: "Há erros de tomada de decisão, falta de treinamento, imperícia, imprudência, negligência, má fé ou dolo no cumprimento da função do porteiro. Recursos técnicos muitas vezes ausentes ou inadequados, sem contar na falta de uma gestão atenta, preocupada em criar procedimentos e conscientizar moradores."

Pontos de atenção no caso de invasões a condomínios e prevenções

1. Disfarces
- Jovens adolescentes vestindo roupas de grife;
- Falso morador disfarçado (judeu usando quipá, por exemplo);
- Falso convidado ou prestador de serviço de morador (normalmente, criminoso liga na portaria se passando por morador para liberar entrada de comparsa);
- Falso prestador de serviço (correios, agente da saúde, concessionárias de água, esgoto e energia elétrica, companhia telefônica, entrega de gás ou galão d'água, manutenção de TV a cabo, etc);
- Falso policial, oficial de justiça ou advogado; 
- Falsa gestante simulando mal súbito (porteiro comovido com a situação é induzido a abandonar seu posto);
- Falsos entregadores de delivery que sobem até o apartamento;
- Atuação de grupos aparentemente inofensivos, como mulheres, casais e idosos.

Prevenção: Infelizmente, falar sobre segurança no Brasil ainda está ligado à aparência das pessoas. Como se lê no tópico acima, boa parte das práticas criminosas se aproveita desse conceito equivocado para invadir condomínios. 

É por causa desse imaginário coletivo, sempre muito preconceituoso, que determinadas pessoas são consideradas mais suspeitas e outras, não. 

Assim sendo, porteiros jamais podem sair de seu posto e somente devem liberar a entrada de alguém se tiverem certeza de que se trata de um morador.

Na dúvida, aborde a pessoa, com educação, e certifique-se, sem medo de ser repreendido ou ameaçado por aqueles moradores impacientes que insistem em afirmar "Você já não me conhece? Vou te demitir se me barrar de novo".

No caso de pessoas estranhas/visitantes, a abordagem correta é:

- Perguntar o nome;
- Perguntar com quem gostaria de falar e qual apartamento irá visitar;
- Interfonar para o morador sobre a visita e confirmar liberação;
- Por fim, cadastrar os dados do visitante.

Se forem visitantes frequentes, que já possuem cadastro por exemplo, deve-se sempre ligar para o morador para obter autorização da entrada.

Quanto a prestadores de serviços de concessionárias, policiais e oficiais de justiça, verifique a veracidade dos profissionais ligando para a empresa ou checando as carteiras funcionais de identificação no site oficial.

Sobre encomendas e delivery, o fundamental é o morador ou porteiro não ter contato direto com o entregador em nenhum momento. Passa-volumes cumprem bem esse papel.

2. Locação de imóveis
- Falsos corretores: Após obterem as chaves do apartamento com a imobiliária, eles as repassam para os outros suspeitos, os quais fingem ser corretores. 
- Falsos inquilinos: Firmam o contrato junto à imobiliária ou a reserva do imóvel via plataformas de locação de curta temporada com documentos falsos. Ao terem acesso ao interior do condomínio, procuram estudar a rotina dos moradores, analisam acessos, posicionamento das câmeras e rotas de fuga.

Prevenção: Neste artigo do especialista em segurança José Elias de Godoy, há uma lista de instruções para locações mais seguras em condomínios, confira.

3. Entrada da garagem e veículos
- Modelo de carro igual ao de um morador, inclusive, com placa clonada; 
- Roubo de bicicletas, com o simples empurrar de portão;
- Controles remotos da garagem clonados;
- Crachá de visitante ou de ex-morador não devolvido ou perdido;
- Sensores de presença fáceis de burlar; 
- Portões abertos em mudanças e obras, com alto fluxo de pessoas.

Prevenção: O porteiro nunca deve abrir o portão identificando apenas carros ou placas e, sim, quem está ali dentro. Além disso, recursos como enclausuramento intertravado (dois portões, o segundo só abre quando o primeiro fecha) também auxiliam o trabalho dos funcionários da portaria. 

Adquirir controles remotos anticlonagem, com sistema de identificação de moradores e veículos pela portaria,  são boas alternativas, assim como disponibilizar um botão de pânico para o porteiro usar em uma situação emergencial.

Reforçar portões para dificultar arrombamentos e conscientizar os moradores sobre o problema de perder crachás e controles são igualmente válidas.

Atitudes suspeitas que podem anteceder invasões a condomínios
- Indivíduos que circundam um veículo (quando estacionado) e/ou pareçam aguardar a chegada do dono para apanhá-lo;
- Pessoas que prestam muita atenção ao condomínio, sobretudo, portaria ou garagem;
- Indivíduos que demonstram muito interesse pelo sistema de segurança do condomínio;
- Pessoas extremamente simpáticas que procuram conquistar a confiança dos porteiros;
- Motoristas ou motoqueiros que se aproximam, repentinamente, de moradores ao entrarem no condomínio;
- Veículos estacionados no entorno do condomínio por muito tempo, sem motivo aparente;
- Indivíduos bem trajados que se fazem passar por pessoas de classe social elevada, intitulando-se doutores ou mesmo autoridades, forçando sua entrada no condomínio, intimidando os porteiros.

Outras situações que podem facilitar as invasões em condomínios  

1. Efeito carona
Pessoas em grupo ou mesmo sozinhas procuram aproximação física de moradores no lado de fora do condomínio, puxando conversa, fazendo-se de conhecido para entrarem juntos, sem serem percebidos ou abordados pelos porteiros. Também é comum vê-los fingindo falar ao celular.

2. Horários de limpeza da calçada e retirada de lixo 
Nesse momento, é possível que o faxineiro deixe os portões de pedestres ou garagem abertos. Isso nunca pode acontecer, e o ideal é que outro funcionário fique vigiando a movimentação ao redor.

3. Guarda de chaves, documentos e controles remotos da garagem
Primeiramente, guardar chaves do apartamento ou dos veículos na portaria do condomínio é extremamente inadequado, pois os funcionários não são e nem podem ser responsáveis por algo de uso pessoal dos moradores.

Em segundo lugar, manter chaves, documentos e controles remotos da garagem dentro do carro é um grande risco. Esses objetos devem sempre ser levados consigo ou guardados em um lugar seguro.

Sabe quando você vai a um restaurante e deixa todos os seus pertences pessoais no porta-luvas, por exemplo?

Manobristas ou outros prestadores de serviço mal intencionados podem encontrar o controle remoto da garagem do seu condomínio e substituí-lo por um "clone", além de vasculharem documentos que indiquem o endereço do dono do veículo. 

Por isso, antes de deixar seu carro nas mãos de terceiros, atente-se quanto à procedência, seriedade e autenticidade da empresa prestadora de serviço. 

Ainda que a lei informe que "a empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento" (conforme a súmula 130 do Superior Tribunal de Justiça), é sempre muito complicado reunir provas.

Uma alternativa para os bens e documentos que não podem ser retirados do carro é registrá-los, de preferência com foto, antes de ele ser entregue aos prestadores.

4. Exposição de informações pessoais 
Aqui falamos tanto da exposição digital quanto na vida real.

Imagine compartilhar informações pessoais com seu funcionário particular ou do condomínio, por mais que seja “de confiança”. Ele pode comentar inocentemente com um parente, um amigo ou permitir que um terceiro mal intencionado escute a história, e por aí vai. 

No entanto, a exposição digital é o maior problema. As informações circulam com facilidade e as redes sociais contribuem para expor bens materiais, rotinas pessoais e nível sócio econômico dos moradores, o que pode atrair o olhar de pessoas que queiram cometer delito, como foi o caso do influenciador Carlinhos Maia. Manter a discrição é fundamental!

5. Colaboradores do condomínio e pessoais dos moradores
Funcionários honestos são imprescindíveis para garantir a segurança do condomínio. Por isso, toda contratação de prestadores de serviços deve ser precedida de levantamentos dos dados pessoais do candidato, e principalmente, das referências. 

Em condomínios com funcionários terceirizados, as empresas especializadas em terceirização de portaria e segurança costumam realizar esse procedimento com maior expertise e frequência.

Outros recursos de segurança para proteger seu condomínio
Com o apoio de Marco Aurélio Amaral, Tânia Goldkorn e Eytan Magal, elencamos o que mais o condomínio pode fazer para garantir a segurança do condomínio contra invasões. São estas:

- Conscientização de moradores sobre a importância de seguir os protocolos de segurança; 
- Treinamento constante de funcionários;
- Melhora na estrutura física do condomínio com um projeto de segurança elaborado por uma consultoria especializada;
- CONSEGs;
- Segurança armada;
- Clausuras;
- Guaritas bem posicionadas e blindadas;
- Controle de acesso por reconhecimento facial;
- Cerca elétrica;
- City Câmeras (Vizinhança solidária);
- Vigilância comunitária;
- Comunicação entre guaritas;
- Equipamentos e sistemas de segurança modernos e com manutenção em dia;
- Manter um cadastro atualizado de todos os condôminos (dados e fotos de moradores, empregados domésticos e características completas dos veículos).

Fonte: Sindiconet