Condomínios do Estado têm mil síndicos profissionais

Trabalhar como síndico requer habilidades para lidar com diversos tipos de problemas. E muitos moradores já não querem assumir esse papel, abrindo oportunidades de mercado para síndicos profissionais. Os rendimentos variam de um salário mínimo (R$ 1.212) a R$ 20 mil.

No Estado há cerca de mil profissionais na função. Como a profissão ainda não é regulamentada, não existe uma qualificação específica para o posto, segundo o advogado especialista em Direito Imobiliário Diovano Rosetti.

Segundo ele, independente de ser síndico condômino ou síndico profissional, quem assume o posto assume responsabilidade civil, criminal, trabalhista, fiscal, ambiental e cadastral referente à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

O síndico profissional e especialista em condomínios Anderson Macarenco explicou que o grande desafio da área é conhecer e identificar o perfil comportamental dos condôminos e estabelecer uma comunicação efetiva. “Para trabalhar na área tem que gostar de gente”, assegurou.

Ele esclareceu que presta o serviço para vários condomínios e conta com uma equipe de apoio com três pessoas. Destacou que apesar de remunerar bem, com ganhos que chegam a R$ 20 mil por mês, o inconveniente da profissão é a necessidade de plantão.

Em um desses episódios, na véspera do Natal de 2018, quando era síndico em um condomínio de alto padrão na Praia do Canto, em Vitória, ele teve que passar a noite de Natal acompanhando o trabalho de técnicos no condomínio, após um vazamento de água afetar o funcionamento dos dois elevadores do prédio.

“Abri mão de estar com a minha família, foi uma situação marcante. Todo mundo arrumado, recebendo visita e nós estávamos lá, meia-noite, fazendo o possível para que, pelo menos, um elevador voltasse a funcionar”, lembrou.

O presidente do Sindicato Patronal de Condomínios do Estado do Espírito Santo (SIPCES), Gedaias Freire da Costa, explicou que a função do síndico profissional pode ser exercida por pessoa física ou empresa.

“Em muitos prédios nenhum morador quer ser síndico, aí contratam um profissional. O síndico deve prestar conta aos condôminos, no mínimo, uma vez ao ano. Ele faz um contrato com o condomínio no qual diz quais os dias vai visitar, quais atividades vai exercer, que suporte vai dar. Ao contrário do síndico condômino, ele não mora no prédio em que atua”.

EXPERIÊNCIA É O FATOR MAIS IMPORTANTE PARA O TRABALHO
Como não existe uma regulamentação para profissão de síndico, não está estabelecido quais cursos é preciso ter para exercer a atividade. Contudo, especialistas destacam que o mais importante é ter experiência na área.

o presidente do Sindicato Patronal de Condomínios do Estado do Espírito Santo (SIPCES), Gedaias Freire da Costa, explicou que não é necessário ter uma graduação específica para atuar na função. “O mais importante é que o profissional tenha experiência e cursos na área de gestão de condomínios”.

O advogado que atua com Direito Imobiliário Diovano Rosetti explicou que o síndico profissional tem essa como sua principal ocupação. “Está recebendo para a prestação de serviços. O que muitas vezes não ocorre quando o morador do próprio prédio é síndico”, diferenciou.

Para ele, os requisitos para ser síndico profissional seria ser um administrador que teria uma atitude proativa e organização na sua gestão. “Ele tem sob sua responsabilidade, a arrecadação das cotas de condomínios, sendo então receitas e despesas além de contratação de mão de obra em serviços e terceirização”.

“O síndico profissional terá que ser uma pessoa agradável e cativante, pois ela é eleita entre os condôminos”, observou.

Também ressaltou a necessidade de um comportamento conciliador e comunicativo, ser organizado e disciplinado, além de honesto, prestando conta de sua gestão nas assembleias e quando solicitado.

ADMINISTRAÇÃO RENDE AMIZADES
Se por um lado, os síndicos profissionais não moram nos prédios onde atuam, os síndicos condôminos estão ali, vivendo na pele o que os moradores passam, já que ele também é um morador.

Nessa convivência, muitos acabam fazendo amizade com os moradores e se tornando amados pelas famílias.

O professor de matemática e síndico condômino de um condomínio na Mata da Praia, em Vitória, Antônio Adolpho Davariz, 53 anos, contou que se sente amado e respeitado pelas famílias. E que gosta do trabalho que desempenha.

Além de se dar bem com números, ele já tinha experiência como síndico quando mudou para o prédio, em 2010. E que resolveu se candidatar à vaga porque gosta da atividade e tem facilidade em se relacionar com os moradores.

Além disso, ele não paga o condomínio, um dinheiro economizado que ele pode utilizar com outras coisas. O morador do prédio, José Carlos Milanesi, 68 anos, destacou que o trabalho não é fácil, mas que percebe que Antônio gosta do que faz. “Tem que ter alguém que encara, né?”, brincou.

A relação é de amizade. “Ele é um síndico dedicado e um companheiro, amigo, a gente está sempre se encontrando. Quando tem aniversário convidamos ele, no aniversário dele, ele convida a gente também. Existe esse entrosamento”.

Mas revelou que a amizade não interfere no profissionalismo. “No condomínio não tem jeito, tem que seguir as regras. Não pode existir amizade aí. A gente também tem que entender essas coisas”.

O advogado especialista em Direito Imobiliário Diovano Rosetti observou que a figura do síndico, muitas vezes é uma figura antipática. “Ele terá que controlar, em alguns casos, os ‘excessos’ dos moradores, e ele sendo também morador, a situação fica um pouco mais complicada”.

“Temos uma boa convivência. Já recebi mensagem no privado falando que estou com passagem de primeira classe e vaga garantida no céu”, lembrou.

Glauco Marinho já foi síndico condômino e hoje é proprietário de uma administradora de condomínios que em alguns casos também exerce a função de síndico.

Ele explicou que o síndico condômino enfrenta alguns problemas que o síndico profissional não enfrenta. “O síndico profissional está ali para cumprir as regras. Já o síndico condômino também mora ali, tem aquela coisa de multar o vizinho e ele ficar de nariz torcido ou de fazer vista grossa para evitar problema”.

Mas lembrou que além da possibilidade de se indispor, por outro lado, se faz muita amizade com os moradores.

PANDEMIA DEIXOU TRABALHO MAIS DIFÍCIL
A pandemia trouxe consequências para saúde mental de grande parte da população. Casos de depressão e ansiedade vem crescendo e, para lidar com pessoas é preciso estar pronto para lidar com as mais diversas situações.

Síndicos podem enfrentar situações de brigas, estresse, ameaça de morte, entre vários outros problemas. Mas, depois da pandemia, tem sido mais difícil a relação interpessoal, sehundo profissionais da área.

Glauco Marinho explicou que o nível de estresse hoje é “um absurdo”. “É fora da curva. As pessoas estão brigando por causa de besteira”.

Ele trabalha na área há 30 anos e percebe que a relação entre as pessoas está piorando. “Falta espírito de convivência”.

Por outro lado, lembrou que quando se trabalha há muito tempo na área, também se constrói relacionamentos duradouros. “Eu gosto de trabalhar, de ir ao condomínio ver como as pessoas estão. Isso é valorizado, dá prazer de trabalhar”.

Fonte: A Tribuna