Reabertura da economia pressiona síndicos por lazer

A retomada gradual das atividades econômicas em São Paulo trouxe mudanças não só para os condomínios comerciais, mas também os residenciais. Enquanto escritórios, lojas e serviços voltam a abrir as portas, a flexibilização nos condomínios fica nas mãos dos síndicos, que têm sido pressionados por moradores confinados e ávidos por usar as áreas comuns, até então fechadas.

Segundo a Associação das Admnistradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC), a reabertura destes espaço só pode acontecer se "seguir um tripé de segurança, formado por medidas de distanciamento social, uso de máscaras e higienização frequente." Para as áreas cobertas, a associação recomenda mais cautela e sugere reabertura somente mediante reserva por apartamento, a fim de controlar o número de usuários.

Com a autonomia da decisão na mão dos síndicos, o jeito tem sido apelar para o consenso entre moradores. Sócio da Patrimonius e síndico profissional de 32 condomínios, Rafael Bernardes, de 38 anos, democratizou a questão. “Quando o prefeito passou para o mercado a informação de que essas decisões seriam de responsabilidade dos síndicos, teve uma onda de solicitações dos moradores, querendo saber se ia abrir playground, academia." Ele então lançou uma pesquisa em grande escala e a maioria votou pela volta das academias e áreas abertas para tomar um pouco de sol. Outros espaços, quase que por voto unânime, devem continuar fechados.

No caso das academias, Bernardes pretende adotar um procedimento de segurança contra o vírus, com limpeza de hora em hora e luzes ultravioleta para verificar a desinfecção. O uso será liberado sob agendamento e o espaço só poderá ser dividido por pessoas do mesmo apartamento. As decisões baseadas na pesquisa, que se encerrou nesta semana, devem ser aprovadas em assembleia virtual.

A possibilidade de haver excesso de visitas ainda não desperta preocupação. “Não é fácil chegar a um consenso com um grupo tão grande, mas a maioria apoiou a flexibilização de forma comedida”, relata o advogado Edson Boschilia, de 42 anos, síndico de um condomínio com 650 moradores da Vila Anastácio (zona oeste).

Ele observa que o número de visitantes ainda é bem moderado em comparação ao período que antecedeu a quarentena. Já os espaços comuns foram divididos em dois grupos: os que não vão entrar no primeiro cronograma de flexibilização porque geram aglomeração por natureza, como brinquedoteca, salão de festas e churrasqueira, e aqueles em que é possível controlar o acesso, como academias e quadras.

Mesmo havendo divergência entre moradores, o advogado acredita que a contenção de danos seja o melhor caminho. “É preferível que o morador se exercite ou use alguma área de lazer dentro do condomínio, que é um ambiente controlado e higienizado, do que vá para a rua para se exercitar”, diz.

Moradora e conselheira do mesmo prédio, a jornalista e empresária Cristiane Moraes, de 42 anos, está aproveitando a reabertura para arejar. Ela deve continuar a trabalhar em casa pelo menos até o final de julho. Por ter dois filhos pequenos (de 2 e 3 anos), ela evita sair do condomínio e procura aproveitar as áreas comuns em família.

“Percebemos que, se não fizéssemos isso (flexibilização), os moradores acabariam saindo e isso poderia trazer ainda mais risco para todos”, aponta. Para ela, a iniciativa tem funcionado bem. “Liberamos a quadra de tênis, agora também abrimos a academia e um projeto foi elaborado pela nossa assessoria esportiva para fazer a adaptação em etapas.”

Uma campanha de comunicação, batizada de Continue Cuidando, também foi a aposta da Lello Condomínios, que administra 3 mil condomínios no estado. A ideia é reforçar todas as medidas de prevenção para minimizar os riscos de contaminação pelo novo coronavírus, conta a gerente de relações com o cliente da Lello, Angélica Arbex.

Além disso, diz ela, os números relacionados à doença, que só crescem no País, deveriam pautar as decisões. “No Estado de São Paulo, os números de leitos, casos e mortes desencorajam completamente a abertura do condomínio para terceiros ou a liberação de espaços com aglomeração, pois os salões de festas e churrasqueiras são exatamente isso.”

São esses dados, ainda preocupantes, que levam moradores a serem contrários à reabertura nos condomínios. A empresária do setor de construção Juliana Mendonça, de 37 anos, diz que não pretende mudar a rotina de isolamento tão cedo.

"A flexibilização ocorreu por um fator econômico e não de saúde, é isso que as pessoas não entendem", diz. "Acredito que, se o governo pudesse, decretaria lockdown porque é uma calamidade pública."

Moradora de condomínio na zona sul que possui grande área aberta,ela defende a liberação de espaços ao ar livre para aliviar o confinamento, com a condição de todos se comprometerem com as medidas de proteção. Para outros locais, pensa diferente. "Sou contra a abertura da academia por ser lugar fechado, que demanda mais funcionários para a limpeza."

Fonte: O Estado de São Paulo